quinta-feira, novembro 30, 2006

O papel do Itamaraty


Reza a lenda que o então presidente da República General Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) não dominava o idioma Inglês (não acho isso seja obrigatório e isto não tem nada a ver com o fato do nosso atual presidente mal falar o Português formal; penso ser essa – entre outras – a função da Chancelaria e os que mamam nas tetas do Itamaraty) teria um encontro com seu colega norte-americano Harry S. Truman (1945-1953). Para evitar gafes, Dutra teria sido orientado a repetir as palavras de Truman, evitando assim, um vexame maior.

Na hora do encontro, o presidente dos Estados Unidos teria estendido a mão e dito:

- How do you do, Dutra?

Ao que nosso presidente, sem hesitar, respondeu:

- How tru you tru, Truman?

Lembro essa história para chamar a atenção a dois detalhes que aconteceram nesta quarta-feira, em Abuja (Nigéria), durante a Cúpula África-América do Sul (não riam, isso existe). A despeito do machucado em seu pé direito (ocorrido há três dias na Granja do Torto – ninguém disse, mas é claro que foi jogando bola), Lula manteve o compromisso marcado com o ditador líbio Muammar Gaddafi e, mesmo de cadeiras de roda, chegou na hora. Só que seu colega líbio chegou com mais de 30 minutos de atraso. Uma indelicadeza protocolar inadmissível. O lance deve ter pegado tão mal que o presidente Gaddafi solicitou novo encontro com Lula, um café da manhã, que aconteceu nesta quinta-feira.

O segundo “detalhe”, este causado pelo presidente Lula (e que passou despercebido por todo mundo), aconteceu durante um encontro entre ele e os presidentes de Togo, Gana, Nigéria e Moçambique. Lula já havia cumprimentado um de seus colegas e, ao ver uma mão estendida, tratou de agarrá-la e cumprimentar também. Só que o dono da mão era funcionário do cerimonial nigeriano, que apenas indicava o lugar que o outro presidente deveria ocupar.


quarta-feira, novembro 29, 2006

Iniciativa privada não é concentração

Tenho um pé (quase os dois, na realidade) na esquerda, mas bom senso suficiente pra acreditar que o Governo deve deixar algumas coisas de lado para ter fôlego e foco para se preocupar com, digamos, coisas de governo, deixando o resto para a iniciativa privada. O controle disso tudo ficaria por conta dos órgãos e agências reguladores independentes e apolíticos.

Foi divulgado hoje que a concessionária CCR irá controlar a Linha 4 (Linha Amarela) do Metrô Paulista, que vai ligar a Estação da Luz à Vila Sônia (zona oeste da capital). A notícia do InfoMoney registra uma informação importante.

A CCR - Companhia de Concessões Rodoviárias já possui outras seis concessões: Ponte Rio-Niterói (RJ), Nova Dutra (RJ/SP), Via Lagos (RJ), RodoNorte (PR), Autoban (SP) e ViaOeste (SP). Sem preciosismo, diria que por estas concessões passam a maior parte do PIB nacional que trafega por via terrestre.

Em 1998, quando foi privatizado o Sistema Telebrás, o então ministro das Comunicações Sergio Motta, comemorou o fato de ter vendido "ar" para as concessionárias que adquiriram as licenças para operar telefonia celular no País. Em oito anos, um telefone celular que custava mil dólares pode ser comprado, hoje, por menos de 100 reais (são quase 100 milhões de usuários no Brasil). Neste caso, a privatização seguiu regras rígidas, dividindo o mercado em áreas de interesse distintos e assegurando que nenhum controlador pudesse ter mais de uma concessão na mesma área, garantindo (em tese), a competição.

Não é o que se observa no caso acima. A CCR já domina as mais importantes rodovias do Brasil e começa a espalhar seus tentáculos no transporte público. Para fazer sentido, terá de mudar sua razão social.

Guaraná para o Carlito Tevez

Em clima de brincadeira, o ex-corinthiano Carlito Tevez afirmou que jamais vestiria a camisa da Seleção Brasileira.

Não imagino que eu tenha sido o único a me espantar quando vi pela primeira vez - e depois revi inúmeras vezes não sem um semi-sorriso nos lábios - o Dieguito cantar o Hino Nacional em uma propaganda do Guaraná Antarctica (delicie-se com esse vídeo do YouTube).

E isso me lembra, ainda, o Zeca Pagodinho e a briga das cervejas Schim e Brahma, tempos atrás.

Que o Tevez ainda é jovem, eu não tenho dúvida. Só acho que ele ainda não recebeu, isso sim, uma propo$ta interessante pra, digamos, ir contra seus princípios.

É uma questão de tempo, afinal, ele já deu o primeiro passo: é argentino e joga nas terras da Rainha Elizabeth II.

A Igreja, Bento XVI e a Turquia

Dizem que religião, política e futebol são assuntos que deveriam ficar de fora de qualquer discussão. Algo assim como cueca (ou calcinha), cada um tem a sua e estamos conversados.

Mas essa não dá pra deixar passar.

A atual visita que o Papa Bento XVI realiza faz à Turquia merece ser vista com mais atenção. Antes mesmo de pisar naquele país, populares (instigados ou não) mostravam-se contrários à sua visita. Hoje, noticia-se que a missa realizada por ele na Igreja da Virgem Maria teve a presença de cerca de 200 fiéis. Não, não digitei errado. São mesmo DUZENTOS fiéis. Ou seja, o contingente de policiais (mais de 3 mil) destacado para protegê-lo supera o de fiéis dispostos a ouvir o que Bento XVI foi dizer.

Não se trata de simplesmente ignorar a Turquia - e não é isso que estou querendo dizer. Estive em Roma pela primeira vez em outubro e, claro, o Vaticano e vi o Papa. Tudo bem que foi por uma coincidência - sou católico como boa parte da população brasileira e pratico a religião exatamente como a maioria, se é que me entendem... Após o início da missa na Praça de São Pedro (esperei até as bênçãos iniciais), fui visitar o Museu do Vaticano (muito mais interessante para quem tinha apenas três dias para conhecer a cidade toda). Chama a atenção o fato de que nas diversas placas que existem, cá e lá, nenhuma delas traga inscrições em Língua Portuguesa.

Vou cometer o despautério de usar uma informação não checada, mas acho que não vou errar. Se os falantes da Língua Portuguesa não são a maior parcela de católicos no mundo, estamos quase lá. E aí você vai ao Vaticano e não encontra uma única placa nesse idioma (os confessionários da Basílica de São Pedro, por exemplo, tinham padres falantes de várias línguas, menos a nossa!).

Aí o cara, chefe de tudo aquilo, decide fazer uma viagem e vai para um país no qual 99% da população é muçulmana e onde não é bem-vindo. Dá pra entender? Depois a Igreja vem com um discurso de que seu papel não tem absolutamente nada a ver com Política. Ahã! A Turquia tenta entrar para a Comunidade Européia e conta com o apoio pseudo-declarado do Papa, mas enfrenta uma resistência grande por parte dos demais países do bloco.